Polo de Confecções do Agreste, formado pelas feiras de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, movimenta mais de R$ 5 bilhões na economia a cada ano. Polo de Confecções gera renda e empregabilidade para pequenos empreendedores em PE
No dicionário, a palavra “feira” significa uma reunião de vendedores e compradores, em determinado local e hora, com a finalidade de comércio. Em Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, este tipo de negócio, por meio da “confecção”, que é a roupa feita em fábrica, que se adquire pronta, gera renda e empregabilidade para mais de 24 mil pequenos empreendedores.
A produção deste tipo de produto na região gera em torno de R$ 5 bilhões a cada ano, segundo o Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco (NTCPE). Aproximadamente 90% de todo processo é realizado por empreendedores, que reaproveitam tudo e por meio dos resíduos conseguem garantir renda, gerar empregos formais e informais de maneira sustentável. Veja mais no vídeo acima.
Nesta reportagem especial sobre o Polo de Confecções do Agreste de PE você vai conferir:
🌃 Potencial econômico do setor de confecções em Pernambuco;
👨🏽💼👩🏽💼 Empreendedorismo como fonte de renda para pequenos negócios e microempreendedores;
👖 Sustentabilidade na confecção de peças em jeans;
👨🏽💻Tecnologia e inovação, aliada ao setor da moda;
💲 Linha de crédito ao pequeno empreendedor.
Feira da Sulanca – Caruaru
Feira da Sulanca em Caruaru
Reprodução / TV Asa Branca
Em Caruaru, cidade que tem mais de 369 mil habitantes segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), funciona a tradicional Feira da Sulanca todas as sextas-feiras. O município fica a 136 km do Recife e tem aproximadamente 12 mil pequenos empreendedores que comercializam produtos ligados a confecção produzida na região do Agreste do estado.
A Capital do Agreste, como é conhecida, cresceu em torno da feira, que até o ano de 1992, ficava localizada no Marco Zero da cidade, em frente à igreja de Nossa Senhora da Conceição. O potencial econômico da feira, gera renda e empregabilidade para os pequenos empreendedores, que impulsionam a economia do município.
Feira da Sulanca em Caruaru fica localizada no Parque 18 de Maio.
Arte / g1Caruaru
O empreendedorismo é algo pujante e está presente nesta realidade da feira. O presidente da Associação dos Sulanqueiros de Caruaru, Pedro Moura, ressalta que 90% das pessoas que comercializam na feira são pequenos empreendedores, que produzem mercadoria em pequenos negócios, fábricas de confecção e ou até mesmo dentro das próprias residências, gerando renda, novos empregos formais e informais.
Uma dessas empreendedoras é Elanie Souza, de 35 anos. O sonho de empreender é antigo e sempre fez parte da vida da empreendedora, que mora na periferia do bairro do Salgado, bairro que é considerado uma pequena cidade, segundo levantamento feito pelo g1 Caruaru .
O Salgado é um dos bairros mais populosos do município, com mais de 51,5 mil habitantes, com mais moradores do que 80,5% dos municípios do estado, a exemplo de Bom Conselho, no Agreste, com aproximadamente 48.975 habitantes, e Ribeirão, na Mata Sul, com 47.813.
O empreendedorismo no bairro abriu as portas para Elanie, que desde os 17 anos trabalha no ramo da confecção de roupas: calças, blusas, shorts, bermudas, camisas, moda íntima, entre tantos outros produtos, que movimentam toda a cadeia produtiva do interior do estado.
Elanie Souza é empreendedora desde os 17 anos no setor de confecção em Pernambuco.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
“Desde pequena eu vi minha mãe costurando, não tinha muito interesse, mas com a necessidade de ter a minha independência financeira, eu comecei a empreender. Até então eu empreendia na confecção fast fashion, que é aquela produção que nós não temos muita preocupação com o meio ambiente, até que em 2019 o foco sustentável chegou”, disse a empreendedora.
No início de 2020, com a chegada da pandemia, a empreendedora começou a ter mais tempo e acesso aos resíduos. Por meio deles, ela enxergou a possibilidade de ganhar dinheiro de forma sustentável com o lixo que as empresas descartavam. As doações são feitas por empresários da região e pelo núcleo do Armazém da Criatividade, que em Caruaru funciona como um braço do Porto Digital.
O trabalho é feito em equipe e com a ajuda de outras pessoas, a empreendedora vai em busca dos resíduos, “restos de peças jeans”, que se transformam em novos produtos. No processo de produção, tudo é reaproveitado, até mesmo as revistas que são entregues por grandes empresas de porta a porta, nas mãos de Elanie, se transformam em bolsas. As etiquetas da marca da empreendedora também são sustentáveis, feitas por meio de sobras das etiquetas de grandes marcas.
Etiquetas são produzidas com restos de material de etiquetas de grandes marcas da região do Agreste.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
“O meu trabalho faz diferença, eu comecei a ter um olhar diferente para sustentabilidade e o meio ambiente. Durante a pandemia tivemos muita dificuldade de encontrar matéria prima, a exemplo, do algodão. Vendo as pessoas comprando e descartando muito, eu mudei de posicionamento e penso sempre no produto sustentável, penso no futuro dos meus netos, na sustentabilidade do Brasil”, conta.
A empreendedora ainda conta que existem estudos que mostram que o empreendedorismo através da sustentabilidade é o caminho certo para trabalhar no ramo têxtil dentro do Polo de Confecções do Agreste. Que é possível ser sustentável dentro de uma cadeia produtiva, que gera renda e emprego para a população do bairro, da cidade onde as empreendedoras moram. Veja mais no vídeo acima.
“A confecção é minha paixão. Eu fico, como nós costumamos dizer aqui, “abestada”, em saber que de um resíduo, que pra muitos é considerado lixo, eu consigo fazer uma bolsa, uma pantufa, uma nova roupa. Uma matéria prima que era do lixo e que virou luxo”, disse.
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Feira do Jeans – Toritama
Feira do jeans em Toritama.
Reprodução / TV Asa Branca
Toritama fica a 170 km do Recife, capital pernambucana. O município, que tem aproximadamente 50 mil habitantes, segundo o IBGE, é a segunda cidade que faz parte do Polo de Confecções do Agreste do estado. A Feira do Jeans acontece sempre as quintas-feiras de cada semana.
Toda a economia da cidade de Toritama está relacionada ao jeans, chamado por lá de “ouro azul”. Muitas grifes encomendam a confecção no município e só colocam a etiqueta depois. Junto às cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru, o município impulsiona a economia num raio de 500 quilômetros, beneficiando famílias em quatro estados do Nordeste.
A produção de roupas jeans em Toritama é classificada como uma Matriz Econômica Nacional, responsável por produzir e vender aproximadamente 20% do jeans no Brasil.
Feira do Jeans em Toritama faz parte do Polo de Confecções do Agreste.
Arte / g1 Caruaru
Para cada peça jeans, são usados aproximadamente 100 litros de água, até a roupa ficar pronta para comercialização. Mas se outras tecnologias forem usadas é possível diminuir este consumo. O Agreste pernambucano tem mais de 800 lavanderias e nem 40% delas tratam a água da produção do jeans. Outro problema é com relação ao resto dos tecidos que ainda são descartados em grande parte, da forma errada.
Para amenizar essa realidade, a empreendedora Severina Bezerra dos Santos e Silva, de 55 anos, mas conhecida como “Nininha Bolsas”, faz parte desta rede sustentável da região e utiliza os restos de retalhos doados por alguns empresários do setor para produzir bolsas em jeans há dois anos.
Nininha bolsas como é conhecida na região confecciona bolsas de maneira sustentável no Polo de Confecção do Agreste.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
“Eu vendia na feira aqueles sacolões, onde as pessoas colocam muitas mercadorias. Aí ela (Elanie Souza, empreendedora) me viu fazendo as bolsas feitas em jeans. Algumas clientes começaram a pedir bolsas em tamanhos menores e ela então me convidou pra vim fazer parte do Armazém. Participei do conexão moda e daí o evento alavancou minhas bolsas, meu sucesso”, disse Severina Bezerra, empreendedora.
O empreendedorismo, ligado a criatividade e a inovação, fez com que a empreendedora conquistasse não somente a renda própria, mas também crescimento profissional, visibilidade no mercado da moda pernambucana e até mesmo prêmio em competição, tudo isso aliado a sustentabilidade. Veja mais no vídeo acima.
“Criei até uma bolsa, a “Bagblusa”. Uma blusa que se transforma em bolsa. Eu pego o material em um depósito. Eu e outras pessoas pegam os restos de tecidos. Tu já imaginou isso jogado na natureza? Isso jogado quem sabe aonde? E nós transformamos em dinheiro. Do lixo, conseguimos praticamente sobreviver”, disse.
“Bagblusa” criada pela empreendedora foi a campeão em um concurso de moda e sustentabilidade do Armazém da Criatividade em Caruaru.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
Moda Center – Santa Cruz do Capibaribe
Moda center em Santa Cruz do capibaribe
Ascom – Moda Center
Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, é o terceiro município que faz parte do Polo de Confecções do Agreste. A cidade tem mais de 100 mil habitantes e fica a 192 km da Capital. Por lá, 12 mil pessoas comercializam todas as sextas-feiras, sendo a grande maioria pequenos empreendedores.
O Moda Center, local onde é comercializado os produtos, conta com mais de 120 mil m² de área construída em um espaço de 32 hectares. De acordo com números divulgados pelo Governo de Pernambuco, o Polo gera mais de 250 mil empregos diretos e indiretos para a população. A assessoria de comunicação do Moda Center disse ao g1 que a estimativa é que 60 mil empregos sejam da população de Santa Cruz do Capibaribe.
Moda Center em Santa Cruz do Capibaribe no Agreste de Pernambuco.
Arte / g1 Caruaru
Na cidade, a moda está aliada a tecnologia e inovação, buscando sempre o conforto e a segurança do consumidor final. É desta forma que a empreendedora Christiam Raissa dos Santos, de 26 anos, trabalha atualmente.
Tecnologia aliada a moda permite pais localizarem os filhos em Pernambuco.
Reprodução / TV Asa Branca
A empreendedora conta que a família dela sempre trabalhou no ramo da confecção, desde a infância. Antes de empreender, Raissa trabalhou em várias fábricas de confecção, foi gerente, participou de todo processo da produção das roupas, mas o espírito empreendedor, não saía da mente, e aos 21 anos, com o valor de 5 mil reais abriu o próprio negócio.
“Nós queríamos algo que fosse inovador, que as pessoas olhassem e lembrassem da “The Lion” (loja de roupa moda praia), com uma força inovadora. Já que trabalhamos com proteção UV, pensamos em algo há mais, trazendo mais segurança para o cliente, para quem vai pegar o produto final. Desenvolvemos então o QR CODE nas roupas infantis”, conta Raissa.
O pequeno negócio atualmente produz aproximadamente 45 mil peças por mês e emprega de maneira direta e indireta 45 pessoas na cidade, gerando um faturamento em torno de 3 milhões de reais por ano. As peças são vendidas no Moda Center e no Shopping Altas Horas Outlet em Santa Cruz do Capibaribe.
QR CODE contém dados das crianças que utilizam o produto.
Reprodução / TV Asa Branca
Raissa conta, que além de conforto, a marca dela visa trazer segurança ao cliente final. Cada QR CODE colocado nas camisas de proteção UV pode ser cadastrado os dados da criança que vai utilizar o produto, para caso o filho ou filha se percam dos pais em uma praia, por exemplo, a tecnologia possa auxiliar nas buscas.
“O próximo passo é implantar o mesmo sistema nas camisas UVs pra motociclistas e ciclistas, para em casos de acidente, ser mais fácil localizar a família com diversas informações pessoais que auxiliem nos primeiros socorros da vítima e contato com a família. Trabalhamos com moda, conforto e segurança, acima de tudo”, conta.
Qualificação e apoio aos pequenos empreendedores
Armazém da Criatividade em Caruaru é um braço do Porto Digital e oferece qualificação aos empreendedores da região.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
Empreender nem sempre é uma tarefa fácil, no dicionário a expressão significa “decidir realizar (tarefa difícil e trabalhosa), tentar”. E é nesse momento inicial do negócio, onde o pequeno empreendedor está tentando, dando os primeiros passados, que o apoio é fundamental.
No Agreste de Pernambuco, os empreendedores podem contar com várias redes de apoio, que oferecem qualificação e espaço físico para o empreendedor que quer tirar a ideia do papel e colocar em prática. Um desses espaços é o Armazém da Criatividade, que em Caruaru, funciona como um braço do Porto Digital.
O local atende não somente as demandas dos empreendedores de Caruaru , a exemplo, de Elanie Souza e Severina Bezerra, que produzem suas peças em uma das salas de costura do Armazém e vendem os produtos nas feiras de Toritama e Caruaru, assim como mostramos ao longo desta matéria, mas a todo o Polo de Confecções do Agreste. Veja mais no vídeo acima.
Armazém da Criatividade oferece suporte técnico e físico para empreendedores do Agreste.
Edivaldo Coelho / TV Asa Branca
“Quando a gente olha pra estrutura física, nós temos laboratórios, estúdios de fotografia, de prototipagem, laboratório Epson, laboratório de costura e o laboratório de criação com impressora 3D, onde as pessoas podem fazer um protótipo do produto. Todo suporte necessário para o empreendedor, disse Pamela Dias, Gestora de Inovação do Armazém da Criatividade.
Quem também oferece suporte físico e qualificação profissional aos empreendedores do Agreste de Pernambuco, é o Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco (NTCPE). O núcleo é uma organização social privada com a missão de promover a inovação, a cooperação e o intercâmbio de informações entre as empresas do segmento, o poder público, a academia e entidades de apoio e fomento.
Segundo o Presidente da NTCPE, Wamberto Barbosa, o núcleo é responsável por desenvolver atividades que auxiliem o empreendedor do ponto de vista estratégico, conduzindo as ações que são de políticas publicas do estado em prol das atividades de confecções em Pernambuco. Veja mais no vídeo acima.
Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções em Pernambuco (NTCPE), fica localizado em Caruaru.
Matheus Guerra / TV Asa Branca
“São ações de capacitação e consultoria, desenvolvimento e pesquisa de produto, tendências, novas tecnologias, sustentabilidade, que tem sido uma agenda muito importante para todos nós. Buscar modelos sustentáveis, do ponto de vista ambiental e social”, disse o Presidente da NTCPE, Wamberto Barbosa.
A força do Polo de Confecções é percebida por diversos órgãos e o Sebrae em Pernambuco também faz parte desta rede de apoio aos pequenos empreendedores da região, que se dedicam a produzir produtos relacionados a moda. Veja mais no vídeo acima.
Os dados disponibilizados ao g1 Caruaru, pelo Sebrae, contabilizados até o início do mês de maio de 2023, mostram a força do empreendedorismo, nas seguintes categorias: ME – Microempresa, MEI – Microempreendedor individual e EPP – Empresa de Pequeno Porte. Confira:
Dados do Sebrae mostram força do empreendedorismo em Pernambuco.
Arte / g1 Caruaru
“O Sebrae consegue apoiar o empreendedor desde a construção do plano de negócios, tirar a ideia da cabeça e colocar no papel, toda a estrutura do negócio em todas as áreas. Todo negócio envolve riscos, mas que a gente consiga mitigar esses riscos para que o negócio possa perdurar, disse o Analista do Sebrae em Pernambuco, Gilson Gonçalves.
E para tirar o negócio do papel, quase todo empreendedor tem aquela dúvida: quem pode investir no meu negócio? É possível contratar alguma linha de crédito? Em Pernambuco, os empreendedores podem contar com diversas linhas de crédito, ofertadas pela Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE), que está ligada a Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo do governo estadual.
Recentemente foi criada a AGE Têxtil, nova linha de crédito direcionada às empresas que irão participar de um dos principais eventos da moda do Estado, a Rodada de Negócios da Moda de Pernambuco. A linha de crédito é valida apenas para pessoa jurídica e que esteja participando da Rodada. O evento terá a sua 36ª edição, em julho e agosto de 2023, focada na coleção Primavera-Verão.
Essa linha de crédito oferece crédito de até R$ 21 mil para o MEI e até R$ 100 mil para ME e EPP. Existe também outras duas linhas de crédito para os empreendedores:
AGE Microcrédito: para quem possui o seu negócio em funcionamento há pelo menos seis meses em Pernambuco, o recurso pode chegar a R$ 3 mil, com taxa de juros de 1,5% ao mês para pagamentos até a data de vencimento que receberem o bônus de adimplência. São até 10 meses para pagar, sem prazo de carência. Pode ser solicitada individualmente, com avalista, em grupo solidário (de 3 a 5 comerciantes, em que eles se avalizam mutuamente).
AGE Empresas: válida para quem é MEI (até R$ 21 mil) e para ME (Microempresa) e EPP – Empresa de Pequeno Porte (até R$ 100 mil). É necessário ter pelo menos seis meses de faturamento comprovado.
Gigante no Agreste de PE: Polo de Confecções garante renda e emprego para mais de 24 mil pequenos empreendedores
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