Após anos de sedentarismo, você decide praticar esportes regularmente. Sua saúde agradece e você começa a gostar desse hábito saudável e ganhar em bem-estar.
Com o passar dos dias, semanas e meses, sua relação com o exercício e se intensifica e as sessões se tornam cada vez mais frequentes. Se você frequenta academia começa a seguir treinos planejados para moldar o corpo dentro de uma disciplina rigorosa.
Mas de repente aquele hábito saudável começa a virar obsessão. Afinal, tudo o que gostamos demais pode se tornar um vício e assim você se torna escravo do esporte.
Hábito saudável x vício
O psicólogo do esporte com experiência em vícios, Ander Chamarro explica que é preciso separar os problemas com nutrição e casos de ortorexia dos transtornos por dependência de exercício que possam existir sobre esse hábito saudável.
“A ansiedade por não ter treinado, a fixação em melhorar o tempo… Isso são apenas indicadores, mas o vício precisa da convergência de vários sinais: que o problema seja grave o suficiente para afetar sua vida cotidiana, que você tenha tentado parar e não consiga, que seu entorno esteja alertando que isso está objetivamente te prejudicando, etc. Tudo isso deve ocorrer por um período longo de tempo.”
Chamarro esclarece que esses casos extremos sobre esse hábito saudável são raros e chegam a consultório em pouca quantidade. O psicólogo afirma que, do ponto de vista psicológico, o vício em esporte tem a mesma experiência da dependência de substâncias tóxicas.
“A pessoa só tem tempo, dinheiro e disposição para o exercício. Pode ter problemas no trabalho, com a família, com os amigos, baixo rendimento acadêmico ou profissional… As consequências podem ser graves, e o entorno deve dar o sinal de alerta”.
Existem vários graus de obsessão pelo exercício
Ander Chamarro aponta que cada caso é único e envolve diversos fatores. “Até chegar a casos extremos, há muitos níveis: desconfortos, dificuldades, complicações… É como outras áreas da vida: tudo que é gratificante pode ser viciante. De qualquer forma, neste caso, o limite para ser considerado um transtorno está bem acima.” Mas as mudanças no estilo de vida podem acabar gerando problemas.
Terapia
Em poucos casos que a terapia é indicada, o psicólogo admite que é muito difícil mudar o estilo de vida de alguém que prioriza o esporte acima de tudo.
“Isso não se instalou em uma semana, e não será modificado em uma semana. Leva tempo para mudar, e deve ser acompanhado por um profissional”, explica.
“Além disso, o entorno deve cooperar para incluir atividades satisfatórias na rotina, ocupando o tempo e espaço que o exercício tomava, sem a influência de amigos que incentivavam essa prática excessiva.”
O especialista recomenda que a pessoa estabeleça objetivos claros com a ajuda de um profissional: “O que posso fazer? Você deve se perguntar se o que pretende é viável, se seu corpo tem capacidade para isso. É fácil exagerar, então é fundamental saber se regular”.