O comércio brasileiro em 2024 apresentou uma resiliência notável em meio a desafios econômicos que não podem ser ignorados. No acumulado do ano até novembro, o setor mostrou crescimento expressivo, com alta de 4,7% no comércio varejista e 2,1% no varejo ampliado. Esses números destacam o papel central do consumo das famílias, impulsionado por uma ligeira recuperação da renda média e uma queda na taxa de desemprego, agora em 6,1%.
Contudo, o cenário macroeconômico traça uma linha tênue entre recuperação e instabilidade. A inflação fechou 2024 em 4,8%, acima da meta, enquanto a SELIC permaneceu elevada, a 12,25%, refletindo a tentativa de controlar expectativas inflacionárias. Essas condições tornaram o crédito mais caro, afetando tanto consumidores quanto empresários. Além disso, o aumento da inadimplência, com 68,5 milhões de brasileiros negativados, ressalta os efeitos de uma economia fragilizada.
Outro ponto de atenção foi o desempenho da Black Friday, que, apesar de superar os números de 2023, trouxe quedas mensais inesperadas em segmentos como móveis e eletrodomésticos. Esse dado expõe a sensibilidade do comércio a estratégias promocionais antecipadas e à fragilidade do consumo em alguns setores.
Apesar das adversidades, o setor demonstrou capacidade de adaptação. O avanço no comércio eletrônico, especialmente via aplicativos, revelou mudanças permanentes no comportamento do consumidor, com destaque para categorias como moda, artigos para casa e cosméticos.
Olhando para 2025, as perspectivas são moderadas, com projeções de crescimento do PIB em 2%. Entretanto, as incertezas fiscais e a persistência de uma inflação acima do esperado colocam um peso extra sobre a política monetária. Será essencial que o governo conquiste credibilidade fiscal para aliviar as pressões sobre os juros e criar um ambiente mais favorável para o setor.
O comércio brasileiro, um termômetro da economia, continuará sendo palco de desafios estruturais e conjunturais. Cabe às políticas públicas e à iniciativa privada buscar caminhos para alavancar o potencial desse segmento tão relevante. Afinal, o equilíbrio entre consumo, crédito e estabilidade macroeconômica será o pilar para um crescimento sustentável em um cenário de tantas incertezas.
Por Thiago Lira
Economista e especialista em análise de dados.