O litoral catarinense, conhecido por suas belas paisagens naturais, também é palco de fenômenos climáticos intensos que deixam marcas na história da região. Em 2025, as chuvas que atingiram diversas localidades do estado se destacaram pela força, trazendo à memória eventos climáticos ocorridos em 1995 e 2018, que causaram muitos estragos.
O professor de meteorologia do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), Mário Quadro, explica que existem alguns ingredientes que contribuem com as tempestades registradas desde quinta-feira (16) em cidades catarinenses, principalmente em áreas litorâneas.
Uma das características típicas do litoral catarinense é que a circulação marítima auxilia para a formação da chuva e a barreira de montanhas, que é a Serra, faz com que o ar suba e forme as nuvens de chuva.
Calor e a chuva intensa no litoral catarinense
O especialista destaca que o fator comum entre os três episódios de chuvas intensas no litoral catarinense, ocorridos em 1995, 2018 e 2025, foi que todos aconteceram durante o verão.
“O fato de ocorrer no período de verão é que temos o calor, além da questão da umidade e topografia. Os dias quentes fornecem energia para alimentar esse sistema que ocorreu no Litoral Norte e Grande Florianópolis”, explica.
O professor menciona que existem outros fatores mais técnicos, mas, a princípio, essas três condições são os principais ingredientes para a formação dessas chuvas ou “tempestades de verão”.
Aquecimento global
Em termos de quantidade de chuva e também em relação aos prejuízos causados, Quadro acredita que as chuvas de janeiro de 2025 foram as mais intensas do que as anteriores.
“Mas a esse fator podemos incluir mais um ‘probleminha’ que é o aquecimento global. As temperaturas do planeta estão se elevando, então, o aumento gradativo traz mais energia e mais intensidade”, conta.
Previsão dos fenômenos
A combinação de fatores leva à formação desses sistemas com chuvas intensas, mas ainda há a dificuldade na previsibilidade de fenômenos como esses.
O professor explica que existem avanços na área e, recentemente, ele aprovou um projeto na Fapesc (Fundação de Âmparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina) para testar a capacidade dos modelos de previsão.
“Estamos adquirindo uma máquina, eu chamo de ‘mini supercomputador’, que tem em torno de mil processadores, com bastante memória. É para fazer as simulações e testar os modelos de previsão para prever os sistemas mais intensos que ocorrem em SC”, explica.
Esses estudos serão realizados ao longo do ano para ver se existe a possibilidade de ajustar os modelos e melhorar a previsão dos fenômenos.
Chuvas em 2025
Até o momento, 13 municípios decretaram situação de emergência devido aos alagamentos, deslizamentos e danos à infraestrutura. Entre eles, Balneário Camboriú, Biguaçu, Camboriú, Florianópolis, Gaspar, Governador Celso Ramos, Ilhota, Itapema, Palhoça, Porto Belo, São José, São Pedro de Alcântara e Tijucas.
Biguaçu registrou um dos maiores volumes de precipitação, com 434,8 mm de chuva em 48 horas, seguido de Florianópolis (375,6 mm) e São José (357,1 mm).
Conforme a Secretaria de Estado da Proteção e Defesa Civil, 320 pessoas estão desabrigadas e 995 estão desalojadas. No entanto, a previsão de novos temporais para o Litoral catarinense, que devem se estender até segunda-feira (20), mantém a população em alerta.
Equipes da Defesa Civil já enviaram ajuda humanitária aos municípios mais afetados, com seis deles recebendo apoio emergencial. Entre os itens distribuídos estão água potável, cestas básicas, kits de limpeza e higiene pessoal, além de colchões e abrigos para os desalojados.
Veja fotos dos estragos até o momento
Chuvas em 2018
Em janeiro de 2018, as chuvas também deixaram rastros de destruição por toda a ilha de Santa Catarina. O ponto máximo aconteceu na madrugada de 11 de janeiro de 2018, quando no Norte da Ilha, choveu mais de 400 mm, enquanto no Sul da Ilha, a medida ficou na casa dos 200 mm.
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Veja fotos das fortes chuvas em 2018 no litoral catarinense
Chuvas em 1995
Há 20 anos, entre o Natal e o Ano-Novo, os moradores da Grande Florianópolis enfrentaram uma das maiores enchentes já registradas na região, com proporções inéditas.
A catástrofe causou danos significativos a residências, prédios públicos, comércios, infraestrutura viária e à agricultura. Entre os dias 23 e 25 de dezembro, choveu 165,8 milímetros em 36 horas, mas a água permaneceu represada nas áreas urbanas devido à maré alta.
A enchente afetou 50 municípios, deixando 28 mil pessoas desabrigadas e causando 40 mortes. Além da Grande Florianópolis, o Sul do estado foi fortemente impactado pelo fenômeno natural.
Palhoça registrou dois mortos e teve 60% de seu território inundado. A capital catarinense teve uma morte, sendo que os bairros mais atingidos foram Trindade, Saco dos Limões, Agronômica e Centro.
Outras cidades como São José, Biguaçu e Santo Amaro da Imperatriz também sofreram com alagamentos.
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Veja fotos da enchente de 1995 no litoral catarinense