Israel prossegue com ofensiva no Líbano e Gaza em meio a críticas por proibir a UNRWA

Socorristas removem um corpo dos escombros após um ataque israelense em Beit Lahia, norte da Faixa de Gaza, em 29 de outubro de 2024

Israel enfrentou uma onda de reações internacionais nesta terça-feira (29) contra a sua decisão de proibir as atividades da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), enquanto prossegue com as ofensivas na Faixa de Gaza e no Líbano.

No território palestino, a agência da Defesa Civil informou nesta terça-feira quase 100 pessoas morreram em um bombardeio noturno no norte do território, onde o Exército israelense intensificou as operações terrestres e aéreas.

No Líbano, onde o movimento Hezbollah anunciou a nomeação do seu número dois, Naim Qassem, como sucessor do falecido líder Hassan Nasrallah, a agência de notícias estatal relatou uma profunda incursão de tanques israelenses no sul.

A guerra, iniciada há mais de um ano em Gaza devido ao ataque do Hamas contra Israel, estendeu-se ao Líbano em setembro, onde o Exército israelense combate o Hezbollah, aliado do movimento palestino e também apoiado pelo Irã.

A abertura desta segunda frente não deu trégua aos habitantes do território palestino sitiado, onde o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal, anunciou que um bombardeio contra um edifício residencial em Beit Lahia deixou 93 mortos e 40 desaparecidos.

“A maioria das vítimas eram mulheres e crianças. As pessoas tentavam salvar os feridos, mas não há hospitais, nem atendimento médico adequado”, disse Rabi al-Shandagli, uma testemunha de 30 anos que se refugiou em uma escola próxima.

O Exército israelense afirmou à AFP que estava analisando as informações sobre este ataque. Por outro lado, assumiu a responsabilidade pelas ações no setor vizinho de Jabaliya, que mataram “cerca de 40 terroristas”.

Em 6 de outubro, as tropas israelenses iniciaram uma nova ofensiva no norte de Gaza, onde dizem que os combatentes do Hamas estão se reagrupando. A operação causou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas e, segundo a Defesa Civil, centenas de mortes.

A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023 com o ataque sem precedentes do Hamas, que matou 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses que incluem os reféns mortos em cativeiro.

Israel lançou então uma campanha de retaliação para acabar com o movimento palestino que já matou pelo menos 43.061 pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

– Novo líder do Hezbollah –

Quase desde o início da guerra em Gaza, as tropas israelenses e os combatentes libaneses do Hezbollah trocaram disparos na fronteira entre os dois países, forçando milhares de habitantes de ambos os lados a fugir.

Com o objetivo de permitir o retorno dos 60.000 habitantes deslocados do norte do seu território, Israel lançou bombardeios diários sobre o Líbano desde 23 de setembro, acompanhados uma semana depois por uma ofensiva terrestre no sul do país.

Esta ação enfraqueceu a poderosa formação político-militar xiita, que perdeu o seu influente líder Nasrallah em 27 de setembro em um bombardeio na periferia sul de Beirute, e o seu provável sucessor, Hashem Safieddine, dias depois.

Nesta terça-feira, o Hezbollah anunciou a nomeação como novo líder do seu número dois desde 1991, Naim Qassem, cofundador do movimento e o seu líder mais visível publicamente nas últimas décadas.

Segundo dados oficiais, a ofensiva do mês passado deixou mais de 1.700 mortos no Líbano. Na segunda-feira, as autoridades relataram 60 mortos em ataques aéreos no leste e sete na cidade de Tiro, no sul.

Nesta terça-feira, Israel continuou o seu bombardeio no sul do Líbano e, segundo a agência de notícias estatal libanesa, realizou um ataque de tanques em direção à localidade de Khiam, a 6 quilômetros da fronteira, incomum pela sua profundidade.

O território israelense também foi atingido por mísseis lançados pelo Líbano, que mataram uma pessoa na cidade de Maalot, no norte, e por um drone dos houthis iemenitas, que caiu no sul sem causar feridos.

– Proibição da UNRWA –

A nível diplomático, Israel enfrentou uma onda de críticas pela aprovação no seu Parlamento de uma lei que proíbe as atividades da UNRWA no seu território e a colaboração com a agência e os seus funcionários.

Isto poderia prejudicar gravemente as atividades da agência, considerada a “espinha dorsal” da ação humanitária em Gaza, uma vez que Israel controla a entrada de toda a ajuda a este território de 2,4 milhões de pessoas.

Várias capitais europeias, a própria ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciaram a proibição, à qual os Estados Unidos também expressaram oposição.

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a decisão, que deve ser implementada 90 dias após a sua aprovação, “agravará o sofrimento dos palestinos”, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para “consequências devastadoras”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.