Pentágono abre investigação sobre uso de app de mensagens para tratar de plano secreto dos EUA para bombardear o Iêmen


Caso ganhou repercussão após jornalista ser incluído no grupo por engano. Autoridades vão apurar condutas do secretário de Defesa, Pete Hegseth, e de outros servidores. O comentarista de TV Pete Hegseth em 2016
Evan Vucci/AP
O escritório do Inspetor-Geral do Pentágono anunciou nesta quinta-feira (3) que abriu uma investigação sobre o uso do aplicativo de mensagens “Signal” pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, para coordenar o lançamento dos ataques dos EUA contra os Houthis do Iêmen.
A operação aconteceu em 15 de março, mas acabou ganhando repercussão após um jornalista da revista “The Atlantic” ser incluído no grupo por engano. Há indícios de que informações sigilosas estavam sendo discutidas no grupo, segundo a reportagem.
O inspetor-geral interino do Pentágono, Steven Stebbins, publicou um comunicado afirmando que irá revisar as condutas de Hegseth e outros servidores conforme os requisitos de sigilo do governo americano.
“O objetivo desta avaliação é determinar até que ponto o secretário de Defesa e outros funcionários do Departamento de Defesa cumpriram as políticas e procedimentos do Departamento para o uso de um aplicativo de mensagens comerciais para negócios oficiais”, escreveu Stebbins.
O aplicativo Signal não é um canal autorizado pelo governo americano para o compartilhamento de informações sigilosas. Existem sistemas do próprio Executivo exclusivos para esse propósito.
Parlamentares democratas e republicanos passaram pressionar a Casa Branca para adotar uma atitude contra o episódio. Membros da oposição pediram que o presidente Donald Trump demitisse tanto Hegseth quanto o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.
Trump e Hegseth tentaram minimizar a polêmica, afirmando que nenhum dado sigiloso foi enviado no grupo de conversa. O presidente determinou ainda que o governo avaliasse a segurança do Signal para a troca de mensagens sobre assuntos nacionais.
Vazamento
O editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi incluído sem querer em um grupo do Signal que compartilhou mensagens ultrassecretas sobre planos de guerra dos EUA contra os rebeldes Houthis no Iêmen.
Além de Hegseth e Waltz, o grupo incluía outras autoridades, como vice-presidente, J.D. Vance, e o secretário de Estado, Marco Rubio.
Segundo o jornalista, a história começou em 11 de março, quando ele recebeu uma solicitação do aplicativo de mensagens Signal de um usuário identificado como Michael Waltz — mesmo nome do conselheiro de Segurança Nacional.
Goldberg afirmou que só acreditou na veracidade das mensagens com o início dos ataques lançados de porta-aviões americanos sobre alvos houthis. O jornal “The New York Times” classificou o episódio como “uma falha extraordinária” de segurança.
O relato de Goldberg mostra momentos em que Vance e Hegseth criticam diretamente as potências europeias aliadas dos EUA. Ao discutir ataques aos Houthis, que têm bloqueado algumas rotas marítimas no Oriente Médio, o vice-presidente lembra que apenas “3% do comércio americano passa pelo Canal de Suez”, enquanto “40% do comércio europeu passa por lá”.
“Eu apenas odeio salvar a Europa de novo”, critica Vance, ao deixar implícito que uma operação dos EUA contra os Houthis supostamente ajudaria mais os europeus do que os americanos.
“Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É PATÉTICO”, concorda Hegseth.
A reportagem da Atlantic aponta que, logo após os ataques aos Houthis, Waltz deu entrevistas contrapondo as ações no Iêmen do governo Trump às da gestão Biden, que ele classificou de “alfinetadas” pouco efetivas.
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