
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), quase 65 milhões de simulações foram feitas para o empréstimo até a última terça-feira.
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A nova modalidade de empréstimo consignado para empregados com carteira assinada, batizado de Crédito do Trabalhador, entrou em vigor na última sexta-feira (21) e já somou mais de 48 mil contratos fechados até a última terça-feira.
Ainda segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), quase 65 milhões de simulações foram feitas para o empréstimo até a véspera. No Brasil, mais de 47 milhões de trabalhadores são assalariados e 68 milhões possuem a Carteira de Trabalho Digital.
A alta procura pelo crédito, que também ficou conhecido como “Consignado CLT”, é uma resposta aos juros reduzidos que são oferecidos na modalidade e que visam tornar a tomada de crédito mais acessível. Parte do que explica as taxas menores é o fato de que as parcelas já são descontadas direto do salário do trabalhador — dando, assim, uma maior garantia de pagamento à instituição financeira.
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Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o Crédito do Trabalhador funciona melhor para as pessoas que precisam quitar dívidas caras e não têm reserva de emergência.
No entanto, eles alertam que é preciso ter atenção a todos os custos do empréstimo — que pode ser diferente de uma instituição financeira para outra. Dessa forma, afirmam os especialistas, é possível entender se esse novo crédito vai, de fato, ajudar o trabalhador — e não criar uma bola de neve de dívidas ainda maior.
Para quem o consignado CLT funciona melhor?
O crédito consignado é uma modalidade que desconta o valor das parcelas direto do salário do trabalhador. Isso dá previsibilidade e uma garantia de pagamento maior para as instituições financeiras — o que, por sua vez, permite taxas menores para a oferta dessa linha em relação a outras modalidades.
Assim, para acessar esse crédito com maior segurança e facilidade, e também para evitar problemas de endividamento, o ideal é que o trabalhador tenha:
estabilidade no emprego;
uma renda fixa mensal; e
uma boa previsão de quanto deve entrar e sair da conta no decorrer do prazo de pagamento do empréstimo.
Segundo a planejadora financeira pela Planejar Leticia Camargo, uma vez que esses pontos estejam garantidos, há algumas situações em que o consignado CLT pode ser uma boa opção:
Quando alguma emergência ocorre e o empregado não tem nenhuma reserva: geralmente, os juros de outras modalidades de empréstimo tendem a ser maiores que o consignado CLT, que promete as menores taxas do mercado. Assim, esse crédito pode ajudar o trabalhador a lidar com uma eventual emergência sem criar um grande endividamento.
Quando a pessoa está no rotativo do cartão de crédito: se uma ou mais faturas foram atrasadas ou parceladas, os juros cobrados pelo banco costumam ser bem maiores que o do empréstimo consignado. Então, vale a pena checar as taxas das duas modalidades e, se a do consignado de fato for menor, funciona bem solicitar um crédito no mesmo valor da dívida que está no rotativo, para quitá-la e evitar a continuidade da incidência de juros.
A mesma lógica vale para as contas que ainda vão vencer. Se, por algum motivo pontual, houve um gasto acima da capacidade de pagamento em um determinado mês, vale consultar os juros das modalidades de crédito para escolher a melhor forma de lidar com a dívida.
Letícia, da Planejar, lembra que o consignado costuma ter o menor juro, então pode ser uma boa opção para pagar as contas e evitar cair no rotativo do cartão ou em outros tipos de empréstimos com taxas mais altas.
“Mas é preciso ficar atento, pois ao pagar o cartão com o dinheiro do empréstimo, o limite do cartão será renovado e a pessoa deve se planejar para não gastar mais do que poderia novamente”, destaca a planejadora.
O economista Pedro Ros, CEO da Referência Capital, afirma que o crédito consignado também pode ser uma boa opção para aqueles que planejam alguma compra de alto valor — como um eletrodoméstico novo ou um carro, por exemplo — e que tenham um bom controle financeiro.
Isso porque a modalidade pode ajudar quem ainda não tem todo o dinheiro disponível para quitar o bem de uma vez e ser uma alternativa melhor em comparação a outros tipos de financiamentos com juros maiores, inclusive o parcelamento no cartão.
Por outro lado, aqueles que estão em uma situação financeira muito instável ou que já tenham comprometido grande parte da renda com dívidas, devem ter mais cuidado, aponta o economista.
“O consignado pode parecer uma solução fácil, mas se comprometer mais do que 30% da renda mensal com parcelas pode agravar o problema financeiro ao invés de resolvê-lo”, comenta Ros.
O especialista indica que, uma saída para esses trabalhadores, seria a renegociação da dívida existente, uma vez que as instituições financeiras podem oferecer melhores condições para a quitação do débito. É preciso ter atenção, no entanto, para que a renegociação seja feita conforme a capacidade de pagamento do trabalhador para evitar um novo episódio de inadimplência.
Caso a dívida com juros mais altos já seja em uma modalidade de crédito consignado anterior a essa medida do governo, o empregado pode esperar até 25 de abril. Nesse dia, começará uma nova fase do projeto, em que será possível fazer a portabilidade da dívida para o Crédito do Trabalhador com um juro menor.
Consignado para CLT recebeu 40,1 milhões de simulações em três dias
Os cuidados necessários e como conseguir uma boa negociação
O principal ponto de atenção na hora de contratar o consignado CLT, assim como qualquer outra modalidade de crédito, é o Custo Efetivo Total (CET) daquele empréstimo, afirma Leonardo Grapeia, CEO da Qista e membro do conselho de administração da BomPraCredito.
Segundo o especialista, o consumidor tem uma tendência a olhar apenas para os juros do empréstimo na hora de escolher a modalidade de crédito e o banco.
E, apesar de essa taxa ser importante, não é o único custo envolvido em uma concessão de crédito. As instituições financeiras podem cobrar outras taxas e encargos que vão compor o valor da parcela a ser descontada do salário do trabalhador, tornando algumas opções mais caras que outras.
Grapeia explica que, entre essas taxas, podem estar tarifas de cadastro cobradas pela instituição, por exemplo, ou algum tipo de seguro para a operação. Muitas dessas taxas podem ser negociadas para ficarem mais baratas ou até retiradas, como no caso do seguro.
Por isso, o cliente deve procurar na proposta do empréstimo apresentada pelo banco o valor apresentado no campo do Custo Efetivo Total. Se não encontrar, é necessário pedir à instituição essa informação e deixar tudo formalizado por escrito em canais oficiais de comunicação.
“É importante olhar para isso porque, senão, ao pedir R$ 10 mil de crédito, esses R$ 10 mil serão creditados na sua conta, mas o custo que será cobrado de você é de R$ 15 mil”, diz Grapeia.
Os especialistas ouvidos pelo g1 também comentam que é essencial conter a ansiedade para conseguir o crédito e analisar várias propostas, considerando o CET de todas elas. Dessa forma será possível escolher aquela com as melhores condições para cada perfil.
Como funciona o Crédito do Trabalhador
A nova modalidade de crédito foi criada pela Medida Provisória nº 1.292, em vigor desde 21 de março. Ela libera o consignado para cerca de 47 milhões de trabalhadores formais, incluindo empregados domésticos, rurais e contratados por MEI.
Confira os principais pontos:
A partir de 25 de abril, os bancos também estarão autorizados a oferecer o crédito consignado por meio de suas próprias plataformas digitais. Até lá, toda a operação acontece exclusivamente pela Carteira de Trabalho Digital.