
Levantamento da Fundação Seade mostra que Pedra Bela, de 6,5 mil habitantes, é, entre os 645 municípios paulistas, o que tem menor grau de urbanização do estado. Como é Pedra Bela, cidade com menor grau de urbanização do estado de São Paulo
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Cercada por muito verde, 450 km de estradas rurais, uma área urbana de ruas estreitas, em que as casas chegam a ficar de portas abertas, e com uma população acolhedora. Quem visita Pedra Bela (SP), distante cerca de 120 km da capital, tem a impressão que o tempo ali passa em outro ritmo.
Não importa o horário, sempre há alguém receptivo a uma boa conversa, seja na charmosa praça da igreja Matriz, seja nos sítios e chácaras espalhados pelo território de 158 km², e até mesmo no velório municipal que, numa cidade com 6,5 mil habitantes, nem é utilizado com tanta frequência.
“Às vezes passa 15 dias, já chegou a passar um mês sem morrer ninguém”, conta Carlos Gomes de Moraes, de 49 anos, que trabalha há dois anos e meio no cemitério.
Pedra Bela tem no turismo, rural e religioso, no cultivo de eucalipto e na produção de carvão vegetal suas principais atividades econômicas. Localizada na região administrativa de Campinas, uma das mais urbanizadas do estado mais urbano do país, é a cidade “mais rural” de São Paulo.
Grau de urbanização
Um levantamento da Fundação Seade sobre o grau de urbanização mostra que somente 27,1% da população de Pedra Bela mora na área urbana, ou seja, quase oito de cada 10 habitantes está presente na zona rural.
Para efeito de comparação, em 2010, seis dos 645 municípios paulistas tinham menos de 35% de urbanização. Considerando os dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), agora apenas Pedra Bela aparece com o índice inferior a 35%.
Segundo o Seade, o grau de urbanização é um indicador que mede a relação entre a população urbana e a total. No estado, passou de 88,6%, em 1980, para 97%, em 2022, sendo que a população urbana quase dobrou nesse período, totalizando 43,1 milhões de habitantes.
“Esse resultado reflete uma tendência global de concentração da população em áreas urbanas, impulsionada por fatores como oportunidades de trabalho e acesso a serviços”, explica Paulo Borlina Maia, pesquisador da Fundação Seade.
E apesar de Pedra Bela ostentar o posto de cidade “mais rural”, onde a grande parcela de sua população vive fora do perímetro urbano, isso não quer dizer que a cidade apresente o esteriótipo da vida do campo.
“O rural igual aquele que conhecíamos antigamente, da pessoa que vivia no sítio e produzia para subsistência ou tinha uma pequena produção para renda, quase não existe mais. Não necessariamente é um rural tradicional como antigamente. Isso ainda existe em São Paulo, em algumas regiões, mas é muito pouco”, pontua Maia.
Na região de Campinas, depois de Pedra Bela, Tuiuti (SP), com 47,3%, e Pinhalzinho (SP), com 60%, são os municípios com os menores graus de urbanização.
Campinas (SP), com 1,1 milhão de habitantes, apresenta 99,5% da população “morando na cidade”. E o município com menor presença de habitantes na zona rural é Americana (SP), com apenas 0,2% dos moradores vivendo foram do perímetro urbano.
‘Muito parado’
Se na região central a vida se concentra em poucas ruas, fora do perímetro urbano a maior parte da população de Pedra Bela está espalhada em bairros distantes por quilômetros.
O mais populoso é o bairro dos Limas, mas engana-se que seja um local com aglomeração de casas. A medida que você vai avançando por estradas de terra, encontra algumas residências isoladas, que fazem até quem já morou em cidades pequenas achar que a vida em Pedra Bela é calma demais.
É o caso de Ubirajara Máximo de Queiroz, de 81 anos, que morava em Fronteira (MG), mas que após problemas de saúde, mudou-se, há pouco mais de um ano, para o bairro dos Limas, onde vive com o filho em um charmoso imóvel cercado por verde, na companhia de cachorros e periquito, e com poucos vizinhos.
“Muito parado. Para mim, é muito parado. Onde morava, a cidade era pequena também. Uns 16 mil habitantes, mas era tudo pertinho. Queria ir no mercado, vai a pé, de bicicleta. Aqui se não tiver carro,. não vai. Tem que ficar por aqui. É uma vida diferente”, conta.
Ubirajara Máximo de Queiroz, de 81 anos, mora no Bairro dos Limas, em Pedra Bela (SP), há pouco mais de um ano
Fernando Evans/g1
A alguns quilômetros de Ubirajara está Maria Ferreira, de 48 anos, outra mineira de nascimento. Natural de Munhoz (MG), criou os filhos na cidade, e conta que tem notado a presença cada vez maior de pessoas de fora em Pedra Bela.
“Aqui nos Limas tem muito chacreiro de São Paulo. Continua sendo tranquilo. De fim de semana escuta um som aqui e ali, mas nada que atrapalhe”, conta.
Apesar de cercada pelo verde, mora próximo a uma bifurcação de estradas de terra, e sempre tem veículo passando na porta. Nada que tire o encanto da região onde mora.
“Eu amo Pedra Bela. Eu vim chorando, agora só saio daqui morta”, avisa.
Maria Ferreira, de 48 anos, conta que ama a vida em Pedra Bela (SP), cidade mais rural do estado de São Paulo
Fernando Evans/g1
Interesse imobiliário
Nascido no bairro dos Limas e atualmente morando no centro, onde tem uma imobiliária, o corretor Fábio José de Souza, de 39 anos, atesta o que dona Maria contou: há um interesse crescente de pessoas de fora, em especial de grandes cidades, como São Paulo e Campinas, por imóveis na área rural de Pedra Bela. Um movimento que foi acelerado durante a pandemia da Covid-19.
“Tem muita especulação de fora, pessoas que vêm buscar uma casa de campo, chácara ou sítio para lazer, a maior movimentação de compra e venda é essa. O mercado é reduzido dentro da cidade. Hoje o maior volume é de pessoas que procuram um lugar tranquilo. Na pandemia teve um boom de pessoas querendo sair dos grandes centros para cá”, explica.
O corretor destaca que o perfil mais buscado é de propriedades que tenham espaço para algum tipo de plantação, mas que não dê muita manutenção, com áreas em torno de 2 mil metros quadrados, e cita o bairro Boca da Mata, próximo da cachoeira, como um dos locais de expansão atualmente.
“Varia muito de valor pela construção, topografia, mas um terreno gira em torno de R$ 150 mil, enquanto uma chácara entre R$ 500 mil e 600 mil”, detalha.
Sargento Leme, comandante da base da PM em Pedra Bela (SP), que conta com 10 policiais para fazer a segurança da cidade com menor grau de urbanização de São Paulo
Fernando Evans/g1
Outro filho de Pedra Bela é o sargento Leme, comandante do 1º GP há cinco anos, e que conta com efetivo de 10 policiais para cuidar da segurança da cidade.
“Pedra Bela é uma cidade turística, bem tranquila, com índices criminais bem controladas. São aproximadamente 7 mil pessoas, mas tem uma população flutuante, que aos finais de semana quase dobra, chegando atingir 13 mil pessoas. Mas conseguimos garantir a segurança do pessoal”, diz.
Da base da PM, localizada próximo ao cemitério municipal e ao lado do centro de saúde e prefeitura, localizados um muito perto do outro, o sargento confirma essa presença de uma população mais diversificada nos últimos anos na área rural, onde se localizava “o maior problema de segurança” em Pedra Bela.
“Temos um policiamento específico para a área rural, que era onde acontecia mais crimes, só que menores, como furtos de chácaras durante a semana, depois que as pessoas vão embora. Mas implantamos o programa de vizinhança solidária, e isso [crime] praticamente está extinto”, afirma.
Dados da estatística criminal da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) mostram que, no primeiro mês de 2025, não houve registro de nenhuma ocorrência de roubo ou furto na cidade. Ao longo de 2024, houve notificação de um roubo, quatro furtos de veículos e 23 furtos no geral.
‘Conheci a cidade, gostei e fiquei’
Um dos locais onde essa tranquilidade está estampada é a praça da Igreja Matriz. Debaixo da sombra das árvores, há sempre uma boa conversa entre os moradores, que fazem questão de acolher bem quem chega.
“Aqui é um paraíso. Turma vem de longe para curtir Pedra Bela. Nós somos pessoas de educação, tratamos bem as pessoas, por isso gostam de vir para cá. Venha com sua família, venha curtir”, fala, com ar de guia turístico, Jair Novaes Souza Júnior, de 40 anos, trabalhador no ramo da construção.
E não faltam testemunhos de quem se encantou pela cidade e decidiu ficar por ali. Como é o caso do músico Jeferson Ibanês da Silva, de 58 anos. Há 12 anos trocou Bragança Paulista por Pedra Bela.
“Conheci a cidade, gostei e fiquei. É próximo da família, acabei ficando. Aqui é bom demais. Não tem lugar melhor, você acordar com os pássaros cantando, aquela coisa de natureza.”
A acolhedora praça da Igreja Matriz de Pedra Bela (SP), cidade com menor grau de urbanização do estado de São Paulo
Fernando Evans/g1
Investir no turismo
Diante das características da cidade, geográfica e populacional, o prefeito Derlei Silva conta que o plano para o futuro de Pedra Bela é investir no turismo, tanto o rural como o religioso.
Um dos pontos turísticos mais visitados é o alto da Pedra Bela, onde fica um santuário e de onde centenas de visitantes descem em uma tirolesa de 1.800 metros de extensão.
Para chegar ao topo, depois de passar pelo altar construído para Nossa Senhora da Pedra, que teria aparecido para um menino em 1930, é necessário encarar 318 degraus. Mas a vista compensa o esforço. De lá é possível ver o aglomerado urbano de Pedra Bela.
Segundo o prefeito, a cidade que tem um trabalho importante na área de carvoaria – são cerca de 80 em atividade – deve explorar o potencial turístico para o futuro.
“Se a gente tentar trazer uma indústria para Pedra Bela hoje, não sustenta. Seria difícil arrumar funcionário. Hoje nosso forte para trabalhar, a longo prazo, é o turismo religioso e rural. Tem muita coisa para fazer, mas é o que vai sustentar a gente daqui uns anos”, afirma Derlei.
Pedra Bela (SP), na região de Campinas (SP), é a cidade com menor grau de urbanização do estado de São Paulo
Fernando Evans/g1
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